Fruto de um cuidadoso trabalho de pesquisa, em que foram consideradas várias fontes, tendo como objetivo a recolha e fiel reconstituição dos trajos antigos dos povos serranos da região correspondente ao norte do Distrito de Leiria e, mesmo para além da sua linha de demarcação com o Distrito de Coimbra, ao próprio vestuário dos povos vizinhos.

Sempre que possível, foram usados os tecidos tradicionais – surrubeco, burel, merino, cotim, baeta, chitas, riscadas, brocado, linho e rendas – e, também, os adereços próprios caracterizadores do trajo – cestos e cestas, canastra de vendedeira de peixe, aguadoiro, sacho, manta de trapos, lanternas de azeite, cajado, roçadoira, molhal, peneira, bilha do mel, cântaro de água, forma das meias de lã, barretes, etc.

Como resultado desta recolha, o Rancho Folclórico Neveiros do Coentral apresenta os seguintes trajos:

Assim dizia o poeta
Aguadeira

Assim dizia o poeta
"vai formosa e não segura"
Com medo qu'a bilha se parta
Com toda a sua frescura.

No labor é graciosaNos milheirais é princesa,Fresca, gentil, animosaÉ assim a camponesa.
Camponesa

No labor é graciosa
Nos milheirais é princesa,
Fresca, gentil, animosa
É assim a camponesa.

Aguadoiro que já regasteCampos e hortas sem fimDepois de tanto cansaçoDescansas ao pé de mim.
Camponeses

Aguadoiro que já regaste
Campos e hortas sem fim
Depois de tanto cansaço
Descansas ao pé de mim.

Mesmo quando vai à festaEle não esquece o vimeiroPara fazer sua cestaTriste vida a do cesteiro.
Cesteiro

Mesmo quando vai à festa
Ele não esquece o vimeiro
Para fazer sua cesta
Triste vida a do cesteiro.

Quem da neve tem contratoJá veste maior riquezaUsa capa sobre o fatoÉ senhora sem nobreza.
Contratadora da neve

Quem da neve tem contrato
Já veste maior riqueza
Usa capa sobre o fato
É senhora sem nobreza.

Meus avós bem prazenteiros(bem poucos bens eram seus)Tinham fatos domingueirosVão à missa – ver a deus!
Fatos domingueiros

Meus avós bem prazenteiros
(bem poucos bens eram seus)
Tinham fatos domingueiros
Vão à missa – ver a deus!

Cavalgando serraniasÉ vendedor ambulantePor feiras e romariasVende burel o feirante.
Feirante

Cavalgando serranias
É vendedor ambulante
Por feiras e romarias
Vende burel o feirante.

Tendo mais bens ao luarBois e mula, muitos gadosTinham mais rico trajarOs lavradores abastados.
Lavradores abastados

Tendo mais bens ao luar
Bois e mula, muitos gados
Tinham mais rico trajar
Os lavradores abastados.

Leva a quartilha à cinturaTrajando à sua maneiraLeite, queijo, uma frescuraDe porta em porta a leiteira.
Leiteira

Leva a quartilha à cintura
Trajando à sua maneira
Leite, queijo, uma frescura
De porta em porta a leiteira.

Chouriço, vinho e broaAo meu pai eu vou levarQue já anda tão cansadoDe tanta terra cavar.
Menina da merenda

Chouriço, vinho e broa
Ao meu pai eu vou levar
Que já anda tão cansado
De tanta terra cavar.

Tingidas nos caldeirõesE secas ao sol nas eirasAs meias eram esticadasPara ser vendidas nas feiras.
Empregada fabril

Tingidas nos caldeirões
E secas ao sol nas eiras
As meias eram esticadas
Para ser vendidas nas feiras.

Aguadoiro que já regasteCampos e hortas sem fimDepois de tanto cansaçoDescansas ao pé de mim.
Menina do aguadoiro

Aguadoiro que já regaste
Campos e hortas sem fim
Depois de tanto cansaço
Descansas ao pé de mim.

Os rigores da inverniaSão do nevão mensageirosDa jorna que apeteciaAos nossos pobres neveiros.
Neveiros

Os rigores da invernia
São do nevão mensageiros
Da jorna que apetecia
Aos nossos pobres neveiros.

Já ao estilo dos graúdosNa graça da sua idadeEis as vestes dos miúdosA honrar comunidade.
Míudos

Já ao estilo dos graúdos
Na graça da sua idade
Eis as vestes dos miúdos
A honrar comunidade.

Em trajo mais requintadoDiscreto, com seus preceitos,Passam noivos em noivado,Na sua boda há
Noivos

Em trajo mais requintado
Discreto, com seus preceitos,
Passam noivos em noivado,
Na sua boda há "confeitos".

Num quadro digno de telaDe um pintor como o MalhoaLeva a padeira a gamelaE do milho se faz broa.
Padeira

Num quadro digno de tela
De um pintor como o Malhoa
Leva a padeira a gamela
E do milho se faz broa.

À porta da sua igrejaCom a tarde a chegar ao fimPadre Tomás ensaiavaNotas no seu flautim.
Padre

À porta da sua igreja
Com a tarde a chegar ao fim
Padre Tomás ensaiava
Notas no seu flautim.

Quem mais cabras possuíaSe sujeitava ao rigor,Da escala que lh'acresciaOs seus dias de pastor.
Pastor

Quem mais cabras possuía
Se sujeitava ao rigor,
Da escala que lh'acrescia
Os seus dias de pastor.

Nos serões junto à lareiraAs serranas das aldeiasAlongam sua canseiraA rematar novas meias.
Rematadora de meias

Nos serões junto à lareira
As serranas das aldeias
Alongam sua canseira
A rematar novas meias.

Na solidão dos pinhaisNa caruma do pinheiroFicam troncos com sinaisQue lhes deixa o resineiro.
Resineiro

Na solidão dos pinhais
Na caruma do pinheiro
Ficam troncos com sinais
Que lhes deixa o resineiro.

Teme a romeira rasgarA saia, quando tropeça,Sobe a serra p'ra bailarMas leva a saia à cabeça.
Romeira

Teme a romeira rasgar
A saia, quando tropeça,
Sobe a serra p'ra bailar
Mas leva a saia à cabeça.

Romeiro vai no caminhoArmado de varapauPensa nos de VilarinhoQue querem o jogo do pau.
Romeiro

Romeiro vai no caminho
Armado de varapau
Pensa nos de Vilarinho
Que querem o jogo do pau.

A coser e a bater solaO dia a dia é rotineiroO que ganha é quase esmolaÉ assim o sapateiro.
Sapateiro

A coser e a bater sola
O dia a dia é rotineiro
O que ganha é quase esmola
É assim o sapateiro.

De Miranda e da FigueiraP'los trilhos que a serra tinhaVinha em esforço a sardinheiraAté nós vender sardinha.
Sardinheira

De Miranda e da Figueira
P'los trilhos que a serra tinha
Vinha em esforço a sardinheira
Até nós vender sardinha.

Ir ao mato era canseiraIr às torgas, matação...P'ra nos serões à lareiraContar lendas, tradição.
Senhora do mato

Ir ao mato era canseira
Ir às torgas, matação...
P'ra nos serões à lareira
Contar lendas, tradição.

O inverno não traz ósseoPode o frio ser coisa boaHá quem leve p'ró negócioMeias de lã para Lisboa.
Vendedor de meias

O inverno não traz ósseo
Pode o frio ser coisa boa
Há quem leve p'ró negócio
Meias de lã para Lisboa.

Com o verão já no finalUvas louras, doce melVamos fazer a vindimaP'ra termos vinho a granel.
Vindimador

Com o verão já no final
Uvas louras, doce mel
Vamos fazer a vindima
P'ra termos vinho a granel.

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